quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"A SERRA"


“Não tires o boné que o sol já está quente!” Dizia a minha Mãe enquanto os meus pequenos passos venciam a caminhada nas primeiras horas daquela manhã. Na Av. Conde de Sucena em S. Pedro a Lenda dos Dois Irmãos à esquerda, naquela época era assim e as perguntas que eu fazia como outros putos de sete ou oito anos. E a minha Mãe contava a história. Fim de Verão e os ouriços das castanhas como tapete verde que eu pegava e tentava esventrar.

A Prima florista no Fetal e logo subindo para descer até à Vila. A minha Mãe aprendeu a ler ali pelos idos 1920/21 com as freiras antes de se curvar para a fonte da Sabuga. Encanto da Vila, e pára e cumprimenta e fala outra vez e conhece mais e nas escadinhas do hospital, sítio do nascimento da minha Mãe, mesmo ali naquela porta. "Anda, vamos que agora é um instante." E eu ia caminhando sempre pela sua mão de frente para o Central, à esquerda a Piriquita com a história da padaria, lá mais à frente pela direita, a Quinta do Roma e se descesse a Quinta da Cabeça de más lembranças da minha Mãe que trabalhou e a fruta e o meu Avô Silvestre, más lembranças. Agora sempre subindo pelo Palácio do “milhões”, agora Regaleira, Seteais com história da lenda das sete mulheres presas na parede e que gritaram até morrer. E eu perguntava sempre até à bica na esquerda depois do arco com a cruz empoleirada, e a minha Mãe contava mais uma vez; À direita no fundo, aquela quinta que o seu Avô, meu Bisavô, tinha de sua com a família e que pela vida vivida em hábitos muito gastadores se foi. “Mas oh Mãe! Foi o tal seu Avô que veio do norte fugido por causa do nome Brandão?” “Foi filho… a Mãe qualquer dia conta a história toda."

E, com a resposta dada lá estava o caminho para a Tapada à vista.O caminho de terra batida levava-nos à casa da Serra. O cheio intenso a café de cafeteira e pão fresco. A minha Avó Cândida, a minha Tia Franquelina, o Quim, o meu Tio Joaquim, os cães, os gatos, os patos e galinhas, a água fresca a correr, o cheiro a terra fresca e as flores, muitas flores por todo o lado. O fumo permanente que saía da chaminé e lá dentro o fogão a lenha com aqueles dourados brilhantes. A mesa enorme para quinze ou vinte lugares e a minha Avó Cândida lá estava sempre alegre e bem disposta. Verde, muito verde e todas as cores.

Oh Mãe vamos à Serra? Sim Filho vamos! E eu ficava muito feliz, era assim uma felicidade sem fim… Naquela casa, a natureza, a beleza da nossa Serra.
Silvestre Brandão Félix

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